Bem-vindos à nova dimensão... seqüenciador de sonhos online.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Enquanto isso, em Londres... *da janela*

- Londres, cara... - Ele observava tudo, enquanto dirigia manhã adentro. A manhã era fria, uma espessa neblina cobria tudo no entorno da baía de Guanabara e o carro voava baixo pela pista, margeando a pista do Aeroporto Tom Jobim como se quisesse correr contra os aviões que pousavam ou decolavam.

- Ãhn? - Sem tirar os olhos da tela do PSP, o carona mal ouvia.

- Londres... essa serração assim, de manhãzinha, parece Londres. - Chegava a soar maravilhado.

- A gente tá na serra, por acaso? Porque ou você errou o caminho ou isso não é SERRAção. - Mesmo assim não tirando os olhos do jogo portátil.

- Ah, serração, neblina, que seja! Mas me lembra Londres...

- Se você ignorar a favela da maré, as torres da refinaria queimando no fundo e o helicóptero da polícia militar trocando tiros com a bandidagem do Alemão, dois quilômetros atrás, realmente parece.

E assim seguiam, Ego e Eu-lírico, rumo a mais um longo dia de trabalho.



sexta-feira, 24 de abril de 2009

Vácuo *troveja o pináculo elétrico*



Breathe
Wake your lungs-
I'm falling fast, no air will come-
I think I've gone too far this time
I crashed the car-
I crossed the line-

Scream-
No one home-
No more Light-
No more me-

"The Body" [Irmãos Gutter]


Reerguer-se.
O impulso das cinzas, em criar forma e se refazer de súbito, abrindo asas para mais uma vez alcançar os céus.
Destruo-me, deixo a fachada dura e impávida descascar, desfaz-se o ego em pedaços pelo chão. Sou essas cinzas, pensando se vale a pena remontar, por um tempo, e mergulho nas lembranças do passado e possibilidades do futuro. Nesse labirinto de me esquivar dos "se eu tivesse" e "se eu tiver" da vida, procuro-me em vão, nos vãos, por vãos. Percorro os sulcos da alma como se deslizando pelas chagas do coração.
Nesse mergulho em mim, descobrir cada nova faceta da tola insegurança de ser incompleto. Temores de uma sede que só pode ser saciada em mim mesmo... para que erroneamente tanto buscara resposta no olhar e nas palavras além das minhas.



Mas sentir a resposta nascer do peito, do vibrar de certezas incertas, porém minhas. A pretensão de saber tudo destruída, para deixar nascer um novo olhar. Me desfiz, me desfaço e me desfarei, pra mais uma vez voar, antes que o chão desapareça de sob meus pés.
Não precisar de chão, não mergulhar no vazio, mas por vezes estender a mão.

Toda a decepção que (quando) restar será a da mão vazia, não a falta de ar.

sábado, 18 de abril de 2009

Rendição *coisas a 4 mãos – VII*

Por: Poisongirl e Troll

 

Existir numa inexistência, realmente, viver dos pequenos milagres, tirando leite de pedra. Quando você se convence enfim de que tudo que é real e importante é difícil, tolice maior de procurar a verdade em espelhos, em reflexos nos olhos alheios. Que fim tem o homem que aceita os grilhões do mundo e esquece de rir de si mesmo?

Curvar-se até o chão diante da inocência, ou mais além do pavimento duro, se fosse tão gasosa assim a matéria da alma que num ponto nunca definido arranca um grito ao ar quando atravessa os tais dos campos vastos, triscando balizas do tempo, lentamente, fingindo obedecer a relógios e, neste empuxo, despenhar-se junto aos dias e às promessas só pra aumentar o monturo e os escombros a seus pés.

Levantando-se enfim de olhos abertos, na certeza de que jamais os teria fechado realmente. Quando a alma vaza em lágrimas, sangue ou suor, se faz presente na liberdade fugidia. Resta somente buscar a certeza de si, não em outrem ou outrossim, mas nas próprias chagas, nas feridas que as pedras e os espinhos do caminho deixaram. E como é idiota, se crer menos ou menor pela vontade alheia ou mesmo pelo tempo! Ao alheio se sobrevive, ao tempo se perdura, tão somente. Mas não se cresce… não necessariamente.

Agora se ergue, cheio de incertezas menos estúpidas que as certezas do homem. As maiores chagas são as da inocência, essa que não se pode recuperar jamais. Os campos vastos repletos de corpos e os armários cheios de esqueletos.


End of the Innocence, de `Davenit no deviantART.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Página 182 *sobre a escrivaninha*

Impressionante… tanto que eu disse ao longo desses seis capítulos e agora, justamente tentando fechar o sexto, não consigo. A mente simplesmente não vai onde deveria. É curioso.

Folheando, percebo que já lá atrás as primeiras páginas foram escritas quase como se às pressas, borradas do grafite em traços grosseiros, quase carvão. Palavras prestes a descolar do papel. Acho que volto pra re-escrevê-las depois… mentira. Esse é um livro que eu nunca vou conseguir encadernar, mesmo. Partes a lápis e borrões de falta de borracha pra todo lado. Mas cada ação e escolha, ah essas sempre surgem à caneta.

A tinta é cruel. Todos fomos escritos e descritos, desenhados com ela. Não tem volta. Onde a linha saiu do caminho certo e errou defeitos a granel, a gente fica. Esconde ESSAS páginas, pra ver se ninguém lê. Até que os números – sempre eles! – entregam. E é aí que quem quer, acha. Cavuca nas entrelinhas e vai achando coisa nova pra ler. E quem nos lê demais, de vez em quando assusta.

Mas cá estou, na página 182 e tentando entender o que falta, desse livro novo. Na verdade, não o que falta, mas algo que eu deveria dizer e não acho. Como fecho o sexto capítulo? Bloqueio de escritor não descreve a sensação. A verdade é que nenhum dos outros cinco eu fechei. Tudo em aberto, tudo repleto de lacunas. Mocinho e donzela confundindo-se, personagens demais, uma narrativa que só faz ficar confusa, onde nem fiz questão de descrever tanto.

Simplesmente porque a vida não conhece linha, não conhece padrão ou trama… só porque eu escrevi tanto, em tão pouco papel – e 182 páginas são ínfimas, pra tudo isso. Quê fazer senão amontoar o que dá, dessa tosca autoria minha e tua, e costurar à mão essas páginas em qqr tipo de capa dura? É simples, na verdade… poderia largar tudo ao vento e ver o que ficava. Mas qualquer pedaço perdido, borrado ou indefinido, me faria toda a falta do mundo.

Então acho que essa página faz jus ao sexto capítulo. Da forma q palavra nenhuma jamais fez jus a um sentimento verdadeiro.

Ah, quer saber? Todo mundo gosta de histórias de beijo…

IMG111-01

E aqui, celebro muitas outras páginas vindouras...

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Custos *à ponta da caneta*

Em vidas, eu analiso
da sua produção
à sua satisfação.
E a felicidade, rateio.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Interlúdio *coisas a 4 mãos – VI*

Texto por Fábio e Troll.

 

Ele era um vassalo e nada mais. Conhecia todos os cantos do castelo e sabia exatamente onde podia se esconder para observá-la. Sabia que os olhos dela nunca fitariam os seus, pelo menos não com o olhar que ele tanto sonhava. Se acontecesse, seria para ordená-lo a trazer mais vinho ou qualquer outro acalento que pudesse vir da cozinha. Mas mesmo sabendo seu lugar, mesmo sabendo que o papel que lhe cabia naquele círculo era de um subordinado...

Ela era a princesa. Possuía tanto o título como o sentido figurativo da palavra. Era linda, seus cabelos cacheados eram encantadores. Seu sorriso, uma armadilha para corações desavisados. Uma beleza que poucos sabiam dar o devido valor e respeito, pois era apenas uma de suas diversas qualidades. Era sábia, íntegra, gentil e amável. Mesmo sabendo ser dura quando necessário.

Ele sabia de todas as minúcias do dia dela e, assim, onde deveria estar para vê-la. Apreciá-la. Imaginar todas as palavras que não lhe cabiam dizer, pois ela não se disporia a ouvir. Estava sempre às espreitas, fitando-a. O medo de ser pego e a sensação de observá-la davam a impressão que o coração não cabia no peito.

Ela levava uma vida vazia, sem emoções, numa mesma rotina angustiante. A falta de aventura, de desejo, de amor faziam-na definhar. Sentimento só piorado, quando devia demonstrar o melhor dos humores, tendo o peito remoído pelo vazio da mesmice.

Um dia, o Rei apresentou a ela o príncipe com quem se casaria. A união dos reinos era de serventia para propósitos políticos. E assim, nela, onde antes havia apenas a falta de emoção, se prostrou o peso de mil mundos. Era fácil saber que não era do interesse dela. O príncipe arrogante e prepotente tratava-a com um desprezo mascarado, por interesse apenas no título dela e nada mais. E isso era observado pelo vassalo que, com peito em pedaços e os olhos rasos d’água, decidiu dar fim àquele sofrimento.

Escreveu uma carta, deixando-a na cabeceira do sono da princesa:

Ó musa dos meus olhares
Singela e bela como uma pluma
Pudera eu te aliviar os pesares
E ter seu hálito como uma bruma

Amo-te em segredo
Impossível negar o quanto te desejo
Confessar-te me trás alívio e medo
De privar-me do quê vejo

Seria o seu príncipe se me permitisse
De um reino sem posses, nem riquezas
Seria a meu júbilo se consentisses
Em dar-me seus olhares e beleza

Sei que és infeliz
Sei que ages como uma atriz
Saiba que tomarei o que sempre quis
E que assim poderei ser feliz.

Não quero-te por esporte
Sei que tens um coração forte
Mas nego que esta dor me escorte
Pois sem ti prefiro a morte

Assim, daquela tinta que pulsara das veias à pena do humilde vassalo, surgia a luz que esperava trazer àquele rosto. De sorrisos que não os do bufão real, mas sim dos que luzem de um amor sincero, quase ingênuo. Ali, à beira da cama, repousaria a esperança de um tolo como a única que resta à donzela abandonada pelas fortunas. Agarrada às palavras, quase rabiscos, da escrita humilde de um camponês que jamais vira, realmente.

Lágrimas coroavam aqueles sentimentos, aquela dúbia alegria de gosto amargo, mas na noite prosseguia o baile de máscaras da realeza. A princesa trajava a tragédia, como uma caricatura teatral que tentava esconder-lhe toda a beleza. Ia de encontro ao seu príncipe, a comédia sorrindo falsa para todos aqueles ilustres convidados, enquanto o bobo-da-corte distraía o aclamado Rei, que às promessas e juras matrimoniais da filha trouxera a paz para os dois reinos. Bailavam todos, ao som do cravo e dos metais, como se celebrando a infelicidade dela.

Ali, entre tantas máscaras, a ingenuidade de um amor simples e plebeu escondia-se atrás dos pilares, caminhando furtivo pela multidão. Um semblante sério, dessa vez não procurando por ela. Vassalo daqueles muros do imenso castelo, ia e vinha onde fosse e quisesse. Por um momento, no entanto, foi impossível não vê-la. As lágrimas que escorriam de sob a máscara cortavam-lhe o peito e davam-lhe a certeza do que tinha a fazer.

E foi assim que o amor sincero, em um baile de rostos de papel-maché - cujos significados sequer conhecera, apunhalou a comédia em seu falso sorriso, com uma lâmina ingênua, da cozinha. O cessar do cravo anunciando novamente a guerra.


murder, de =onelovedivine no deviantART.

Seleção musical por Fábio: Metallica - To Live is to Die

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Sandices (e presente) do Rei *ao trono*

Para uma pausa na série a quatro mãos, a sempre afinada e tão bela Van pediu deste Rei elucidações sobre obsessões, apegos, manias e afins. Como há algum tempo não postava memes e esse parece um exercício divertido, vamos a eles.

1- No quesito bizarrices : Eu canto músicas que curto, de línguas que não entendo nem sei falar. Deve parecer meio mongol? É porque é algo totalmente retardado, mesmo.

2-No quesito " doido é o ...": Eu fantasio com minha própria vida, mas como um espião combatendo uma invasão alienígena secreta. Achei que quando saísse da adolescência não seria mais tão legal, mas ainda é.

3-No quesito TOC: OK, nesse ponto meu senso de ordem é seriamente afetado por coisas bagunçadas à minha volta. Do dinheiro que levo na carteira à bandejinha de sachês de condimentos na mesa do restaurante. Fico ajeitando tudo, o tempo todo.

4-No quesito " Freud explica...": Tenho problemas com o 5 e o 6. Sim, estou falando dos números, mesmo. São criadores de caso, virados pro lado errado, tenho certeza. Ah, e o rádio do carro fica sempre em volumes pares. É sério.

5-No quesito alimentício : Eu curto purê de batata com farofa. Pensem o que quiserem, é bom.

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Também não podia deixar de mencionar (e dar o destaque devido) um presente muito especial que o Palácio ganhou da sempre querida amiga Mai, que participou de um post a quatro mãos, aqui, já.

Fico muito honrado, caríssima. Obrigado.

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Em uma última nota, já está no ar a novíssima edição do Fanzine Elefante Bu. É a maior edição de toda a história do zine e realmente saiu arrasando. Dou destaque para o pessoal da música - que adorei a matéria com o Legião F.C. - e me diverti com a seleção de filmes de terror feita por Marcelo Mendes.
 
À Djenane, sempre esforçada editora dessa iniciativa, os grandes parabéns. O EleBu 41 está excelente.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Fôlego *coisas a 4 mãos – V*

Por: Bruxa e Troll

 

- Sério, por quê diabos você trouxe isso com você? - Ele olhava incrédulo, enquanto a mente fervilhava motivos plausíveis e absurdos.

- Por que eu quero. algum problema? - diz ela, olhar abusado, displicente, jogando a coisa sobre o sofá.

- Você e esses impulsos, né? Precisava de mais um? - Fingia não ligar praquele jeito dela, enquanto tirava o paletó e o jogava por cima da poltrona da sala. - Não quero nem saber quanto custou, tá bom?

- Que ótimo... - jogando-se no sofá, sem ao menos olhar para ele e dando a entender que estava pouco ligando para o que ele achava sobre as coisas e sobre o que ela fazia.

- Xapralá. Eu hein... - Ouvindo o celular dela tocar e fingindo não atentar ao fato, instintivamente procurando o próprio telefone, no bolso da calça.

Ela olha de rabo-de-olho para o gesto dele, mas decide atender o seu próprio celular. Entretanto, pára ao ver no identificador de quem se tratava e simplesmente ignora o chamado.

Olhava-a de soslaio, um pouco sério, e fazia uma constatação bem pouco relevante. - Deixei meu celular lá... esqueci.

- Você esquece coisas demais. - diz ela, em deboche.

- Que se dane, viu... - Nem via-lhe os olhos, agora, mas logo percebia a que ela se referia. - Ninguém vai me ligar, mesmo. E olha lá. Já vem você me lembrando disso de novo! Esqueci sim, tá bom? A cabeça tava cheia de coisa, mas você vai implicar sempre.

- Vou! - levantando-se, irritada - Vou! Vou! Aquilo não era coisa para se esquecer! Nunca!! Entendeu? Nunca! - e saiu da sala batendo o pé.

Ia atrás dela, ouvindo aqueles passos firmes e tentando respirar fundo, pra não perder a paciência. - Olha só, eu não vou pedir desculpas por isso de novo, tá? Quer me ver de joelhos aqui, agora?

De repente, na cabeça dela, viu a cena dele ajoelhado a seus pés. Tudo absurdamente patético. Ou quase... Porque por um momento até desejou isso. E riu o seu sorriso da paz, escancarado, doce.

Olhando-a, cruzava os braços ao perceber aquele sorriso, como se já se defendendo daquela bandeira branca, suspirando exasperado. - Que foi?

Ela voltou até ele, descruzou os seus braços e os fez enlaçarem-na. - Aposto como voce não me faz perder o fôlego. - diz ela, provocativa, olhando-o nos olhos, ainda com o sorriso.

Ele olhava no fundo daqueles olhos escuros e por um momento pensava em mil impropérios, como boa resposta. Sentia seus braços ao redor dela, uma vez mais, e a cálida provocação daqueles lábios tão próximos por um momento despertava-o. - Aceito, vai... - Pousava-lhe aquele misto de beijo e mordida ao ombro, sentindo a pele exposta da blusa de alças deixando a própria respiração lamber-lhe a pele. - Mas se eu ganhar, vai me contar quanto custou.

- Nem mor-ta... - disse ela, num sussurro ao seu ouvido, rindo.


couple, de ~emrekunt no deviantART.