Bem-vindos à nova dimensão... seqüenciador de sonhos online.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Destilados e Fermentados

Coisa de estilo ou instinto
isso de ser gente de tipo.
Porque se um é delonga
o outro “já é”.

E você, quem seja você
não encaixa por que quer.
Mas por que tem gostos
mil desgostos.

Afinal, sê velho ou novo,
experiência ou explosão.
É esse monte de coisas
A idéia em expansão.

Pra perder-se na vida
da vida…
do ser…
ou do estar.

Mas respira.
Então possivelmente é.


Strangle, de ~EkoKaos no deviantART.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Blecaute *de motivos endógenos*

Ele mordia a haste da caneta enquanto os dedos batucavam as teclas. Números e mais números. Na tela, uma série de gráficos dançava, a cada novo “Enter”. Ele sorria menos do que franzia a testa. Cada trajetória sabia ser pior que a última. Aquelas mãos vinham apertar-lhe os ombros.

- Ainda preocupado? – Tentava acalmá-lo, mas estava ela também apreensiva. – Só mais um pouco, vai… quando passar essa empreitada toda, a gente vai poder relaxar.

Olhava-a pelo canto dos olhos e deixava os dedos apenas alisarem o teclado, como se não quisessem parar de digitar. Respirava fundo, pensando na promessa daquelas palavras. Era uma mentira, claro. Aquilo resolvido, viria outra coisa… e a cada outra, seguiriam sabe-se lá quantas.

Ele já concluíra que a natureza do tempo era a crise. Cada momento de estabilidade, próspera ou não, era passageiro demais. Em um espaço maior, de uma vida, de uma história ou do mundo, só haviam mergulhos e decolagens.

- E se a gente não puder relaxar? – Ele voltava o rosto para ela, com ar sério de Inquisidor.

- Aí… vc vai gostar mais ainda, não é isso? – Ria baixo e breve, com jeito quase de deboche. – Qual seria o seu prazer, sem um leão pra matar por dia?

Os dois riam. Ele de um jeito mais nervoso, ela, mais sincero. Os dedos voltavam às teclas e gráficos voltavam a dançar, pelos pixels de uma tela alheia a tudo. Cada pedaço da equação mal sabia que fazia parte daquela conversa. Daquelas preocupações.

Era o papel deles, viviam de mudar o mundo. Cada tecla desencadeava incontáveis linhas ao tecido do tempo. Cada “Enter” firmava-as em seu lugar. Ele sobreavoava possibilidades quase infinitas, ela moldava cada lugar.

E, como se ouvindo a dança de olhares dos dois, tudo apagava-se. Silenciava…

- Que hora pra faltar luz, hein! – Agredia teclas em vão, pensando no quanto se houvera desfeito, desde o último salvamento.

- Não consigo imaginar hora melhor. – Ela trazia uma vela já acesa, da cozinha. – As cordas ainda estarão lá, mesmo que você não possa brincar de movê-las. Deixe o universo descansar um pouco.

E sorria para aquele anjo, com jeito de bruxa travessa. Deixando a vela pingar na palma da própria mão. Sorria, como se não fosse ela. Para que ele deixasse, também, de sê-lo.


Fire hand, de ~SakuaHarioto no deviantART.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Pela floresta – parte II

- Leia aqui a parte I -

Ele percorria os painéis com os dedos, lentamente avaliando as leituras da tela. Os olhos esguios divisavam bem as cores fortes da nave à sua frente, apesar da distância. Rainha Vermelha era um nome apropriado, com certeza. O pirata quase lambia os beiços, tentando adivinhar o que ela carregava.

A Lupin IV era um tanto menor, em comparação. Navegava por aqueles asteróides com facilidade, oculta aos olhos, em suas cores de grafite e azul escuro. E ali, mesmo os radares normalmente deixariam de notá-la. Um mar de rochas, metais, poeira e ondas magnéticas.

A presa começava a girar sobre seu eixo. Ele pensava no quanto a jovem capitã demorara a obedecer as ordens do Comando, para mudar de curso. Estava claramente insatisfeita em ter de fazê-lo.

Não, ainda não era hora de dar o bote.

O computador começava a calcular a nova trajetória da nave escarlate em seus monitores. Teria tempo, até que deixassem o campo de asteróides.

***

Scarlet tirava o capacete irritada. A aceleração para o novo trajeto, às vezes interrompida pelo alerta de colisão e os motores de manobra acendendo, dando trancos, desviando do que quer que fosse. Mesmo ágil, para o seu tamanho, ainda era uma nave grande demais para atravessar os destroços àquela velocidade.

- Deve querer que eu envelheça aqui dentro, pra ficar igual a ela. – Rangia os dentes.

Arremessava o painel de navegação para o lado, fazendo com que ativasse o sistema de som. Talvez precisasse relaxar um pouco, mas queria ritmo para todo aquele balanço dos foguetes. O som começava, explodindo o ar à sua volta, na cabine. Ela quase sorria.

Fechava os olhos e estava em casa, novamente. Um lugar tão distante no espaço quanto na memória. Fingia sentir sua cama sob si, enquanto respirava fundo o que quer que o vento trouxesse pela janela. Tantos aromas e toques do ar da manhã. Seria manhã, lá, agora? Não importa, realmente. Estava em casa…

Um apito a trazia de volta. O som agudo do alerta de presença interrompendo a música e parecendo arrancá-la daquele momento à força. Ela buscava rapidamente a tela dos radares, com o canto dos olhos. Nada. Provavelmente apenas o reflexo passageiro de algum pedaço maior de minério, vagando por entre as rochas. A música voltava em seguida.

- … merda de asteróides.

Fechava os olhos, uma vez mais.


Pepper Look, de =thali-n no deviantART.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Clímax *de um relatório policial*

- Acredita que ela nem estava me ouvindo, e eu ali abrindo o peito pela primeira vez desde que tínhamos nos conhecido?

- Ã-hã… e isso te chateou, né? – A voz saíra mais entediada do que ela queria, mas aparentemente o outro não notara. Continuava apenas falando, no mesmo tom irritado.

- … sabe como é difícil, porque tipo assim…

Tentava se concentrar no que estava fazendo, mas também não queria irritá-lo ainda mais, então precisava continuar balançando a cabeça e comentando a respeito.

- Sei, sei… é foda, isso. – O que quer que fosse, aquela resposta caberia. Ao menos até que o tom de raiva de seu interlocutor recedesse. Aí sim, teria que prestar mais atenção.

- … e pôxa, eu não estava pedindo nada de mais, né?

- Claro… que não. Claro que não! – Um deslize. Precisava terminar rápido, para poder estar atenta a ele. Só mais um pouco… sentia aquela pressão aumentando e seus dedos aceleravam-se, naquele vai-vém cada vez mais difícil. Não podia parar agora. Quase lá.

- Mas aí você vê… ela me traiu… e agora, aqui estamos nós.

- Sim, claro… e eu quero te ajudar. – Boa resposta! A pressão enfim cedia, ela respirava mais fundo que nunca e girava seus braços na direção dele sem nem pensar exatamente no que estava fazendo… gritavam, os dois.

As cordas caíam ao chão, bem pouco antes dele. Ela corria para fora, daquele quarto escuro, enfim… os dedos sangrando, cortados pelo mesmo caco de espelho que lhe dera liberdade.

- Obrigado… – Ele ainda balbuciava, quando enfim percebeu que era o próprio sangue, ao seu redor, no chão.


Murder, de ~XPeaceXLoveXRawrX no deviantART.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Decolagem. *rumo a novos reinos*

É assim… impossível precisar de quanto em quanto tempo, mas algo o coloca novamente em um movimento quase fora de seu controle. A mente perde-se em um fundo pálido, que entorpece-lhe os sentidos e a pele.

Corre. Cada passo como se pudesse destruir o chão de pedra sob seus pés. Não tão pesados quanto resolutos. O frio de seu reino, soprando até o parapeito do Palácio, vindo do Vale das Lágrimas. Invade o salão, acolhendo os espíritos que gemem no tremular de cada estandarte e dos candelabros de ferro.

O Rei Troll sorri. Sente toda a surreal paisagem de seus domínios querendo mudar, ante o novo embalo. Como se o próprio solo e o céu o temessem e quisessem abrir-lhe caminho. A corrida se tornando um salto, rumo aos desafios de sempre. E, como se em uma gigantesca explosão, tudo toma nova forma.

O sorriso do Rei uma vez mais, como tantas outras, dando lugar ao do Andarilho. As asas descortinando-se em um misto de aço, vidro e luzes, ao seu redor. Ele se permite acomodar à cadeira, em meio à absurda aceleração. Deixando até a luz para trás.

Talvez não haja mais um reino. Seu trono, agora, é o do mundo. Pertence à imensidão de tudo o que possa existir. UmTroll, na única imensidão que lhe pode conter.