- A gente tá morto, lembra?
Era realmente estúpido reclamar do frio… mas que ele sentia, sentia. A caminhada de pés descalços pelos longos corredores de pedra daquele desfiladeiro era muito pior do q parecia, no começo. Luiz sentia que não fazia muita diferença, carne ou espírito. Os pés doíam igual, a caminhada cansava… só não sabia mais precisar a passagem do tempo, mas isso ele até achava bom.
- Saudade, sabe? Nunca imaginei que dava pra sentir saudade dos sapatos, caminhando… mas qualquer sola, confortável ou não, seria melhor que descalço assim.
- Sabe… morrer podia ser uma experiência diferente, mas até aqui você tá do meu lado… e parece que morto, ficou mais chato. – A voz dela trazia aquele jeito ferino. Reclamava, mas ainda era ela também a mesma pessoa de antes.
Os dois não lembravam de muita coisa, mas tocando o próprio corpo sentiam exatamente onde o sangue teria escorrido. Lanhos à pele, buracos aqui e ali. De vez em quando ele cedia a um impulso mais masoquista e deixava os dedos explorarem a ferida mais profunda de todas, indo descobrir o próprio coração, perfurado e inerte. Suspiraria exasperado, a cada uma dessas vezes, mas não fazia sentido suspirar quando ele sequer respirava.
- Eu acho… que eu tava dirigindo. – A essas palavras, os dois pararam e ela olhou-o de um jeito ambíguo. – Amor… acho que eu bati com o carro. – Ele falava em um tom de confissão e culpa. – Desculpa…
- Não precisa pedir desculpas, então… – E abriu seu sorriso mais sacana – Acho que agora saquei uma coisa e sei porque você bateu. A culpa foi minha…. não era você quem dizia que eu ainda morreria pela boca? – E falando isso, começou a rir e apontou para as calças dele.
- Nossa, eu nem tinha notado a braguilha aberta. Quem diria… rigor mortis. – E começou a rir, junto a ela.
- Eu nunca resisti a você de terno, mesmo.
11 comentários:
kkkkkkkkkkkkkkk
Safado! Essa é a forma como pretende morrer?kkkkk
beijocas, nino
Hehehehe... boa.
Mas fiquei com uma dúvida, em qual círculo dantesco era esse?
Abraço,
MAMA:
Não consigo imaginar forma mais digna (e gostosa) de morrer!
FABIO:
Pensei no purgatório. Algo meio grego, talvez...
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
chorei de rir
rigor mortis e morrer pela boca
e o victor tá lendo a divina comédia e eu explicando. dante manad um helou.
bj
Só vc kkkk
Pensei o mesmo que a Mi : vc quer morrer assim né bobo?
Fantástico seu blog! Parabéns!
Hahahahhaha!!!! O melhor de tudo é quando o fim é inesperado! Ri horrores!
Senso de humor mórbido esse não?
IARA:
Bom q a tenha divertido, caríssima. E Dante é muito bom, mas não o acha meio novo para algo pesado assim? :-D
AMADA:
Com vc, então, seria um prazer imenso. ;-)
FLAVIA:
Delicioso q tenhas gostado, caríssima. Volte sempre.
SISA:
Nada como um "twist" ao final, não acha?
TYR:
Muito. Mas senso de humor, ainda assim.
"Melhor morrer não morrendo", se assim for!...
Mas, se mesmo lá ainda for possível continuar o que se interrompeu, então acho que ambos são equilaventes em prezeres e medos.
sendo assim, até eu! hehe!
beijos**
FERNANDA:
Pois é, tem horas que as coisas nos impulsionam ao inusitado.
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