Deslizo pelas ruas em primeira marcha, pq senão o carro não anda. É curioso, perceber o mundo passar por mim, nessa velocidade q tem horas q parece querer assustar. Tudo corre, só pq estou atrasado. O carro grita comigo, argumentando peças, rodas e gasolina. Os dois parados, enquanto o mundo vai desviando de nós a 110 por hora.
Quando olho em meu pulso, me torno metal. Ali, quietinho, enquanto os números vão passando por ele. Eu-ponteiro, fitando eu-motorista nos olhos, em tom de acusação. Estamos todos, até eu-carro, atrasados. Uma massa de metais, vidro, plástico, estofado, carne e ossos parada no centro do universo, enquanto tudo se vai moldando ao nosso redor, incessantemente, tentando se tornar onde eu tinha que estar horas antes, já.
Com um clique, eu-música consegue abafar os gritos lá de fora e do motor. Ganho paz, enquanto estou ali tocando guitarra, bateria, baixo, teclado. Desconto em um microfone todos os gritos que por vezes tenho vontade de dar ao mundo, nas fechadas sem seta da vida.
Por um momento, entre uma trilha e outra, paro pra perceber q venho tendo dias grandes demais para suas poucas 24 horas. O tempo, em suas manias de grandeza. Desafiando o espaço e a fisiologia. Sim, sinto o sono, sinto a fome, mas mais do que isso, sinto o peso... minha mão esquerda pesando cada vez mais. Que grilhão é esse? Que força é essa, tentando prender-me ao chão, mais a cada momento? E de alguma forma, encontro a libertação.
Eu-relógio vejo os olhos de eu-bicho, acusando-me de volta. Afastando-se rapidamente, ao passar da janela aberta. Eu-carro e eu-música sorriem, ganhando sinfonia em gritos. O relógio, não mais eu, se estilhaçando pra se misturar ao mundo. No acostamento, um unicórnio.
"Somos todos loucos, aqui."
The Mad hatter, de *fayrenpickpocket, no deviantART.
8 comentários:
amei o texto, amei a imagem, amei seus vários Eus. A complexidade de trilhar cada faceta de seu Eu, torna-se um belo passeio no País das Maravilhas, onde cada curva se pergunta se é uma reta constante, quando na verdade são várias bifurcações com vidas ou becos que sorriem e perguntam: Contornar, ou saltar?
Eu quero mais chá, vc aceita?
Maneiríssimo..
Sorte que nenhum eu-policial, ou um eu-radar de trânsito estáticos te viu moldando o universo a essa velocidade... ;)
Abraço.
Ei, chapeleiro-maluco! Tá na hora de dar uma parada, tá não?
Eu adoro colocar os pés no painel do carro: Eu-carro ou não. Apreciar a vida lá fora é boa coisa...e engoli-la também... Tem sabor gostoso, que não é de graxa.
Beijinhos, nino.
Ahahahah...Troll. Amei.
Nem somente do Troll em seus cochilos amalucados, vive o sorriso.
Porque agora, me foi inevitável.
Não me lembro de ter lascado-me um eu-sorriso como hoje.
Mas amei a leveza do teu texto, em meio ao 'cagaço' que eu ficaria se tivesse sido com eu-mai...
Querido, eu e tu, (sem hífen) poderíamos nos unir em uma cruzada em favor da manutenção dos hífens...
Estou péssima com isto.
Sabes que eu hifenizo quase tudo... E estou 'arrasada'
Tão arrasada que me vi ali 'apagando' no acostamento..
O eu-anjo segurou o carro? E também sorriu?
Ou te deu uma bronca?
Eu-multa adorei a grana que vais pagar.
E eu-oficina vai te ferrar...
Uma viagem e tanto anjo!
Adoro te ver dirigir , tão compenetrado...(olhinhos brilhando)
olha ,
tenho que concordar....ele dirigindo é ótimo...rss
e vou dizer que adoro dirigir com trilha sonora, e cantando...pra quem olha de fora devo ser a doida perfeita. to nem aí....
brasiliense já é um eu-carro de nascença...rs
bj
TYR:
Olha, na verdade nunca fui muito de chá, não. Café, no entanto, sempre cai benzão. *rs*
FABIO:
Na verdade, quando se está na estrada 110 é o limite, mesmo. Eu não costumo pisar mais fundo do q a lei me permite. Exceto na Linha Vermelha. :-D
MAMYS:
Ah, mama, mas a vida é tão veloz q por vezes acho q se eu parar, me ralo todo, de uma vez.
MAI:
Olha, na verdade eu tenho quase certeza q o eu-anjo já pediu demissão faz tempo. E quanto às multas e radares dessa vida, explico-me q ando bastante na estrada, juro. ;-)
POISON:
Sei que gosta... e de me atentar enquanto dirijo, tbm! *rs* Não pense que me esquecerei daquelas mordidas ao ombro, tão cedo. Adorei, minha amada.
IARA:
Pois é, eu tbm berro um bocado, dirigindo. Adouro.
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