- Nossa... OK, isso foi estranho.
- Por ser ruim ou por ser bom?
- Por ter sido bom demais.
Ela o olhava com todo aquele ar lascivo. Um brilho cheio de más idéias no fundo daqueles azuis tão fortes, por trás de algumas mechas vermelhas mais curtas que as demais. O piercing da língua reluzindo quando, provocante, a mesma deslizava pelos lábios, como se buscasse um pouco mais do que acabara de provar. O rapaz claramente sentia o incômodo de estar novamente contido às calças jeans. A jaqueta, um pouco mais clara, protegendo os braços do castigo daquele sol forte.
- E por quê é estranho que seja bom?
- Ah... a gente tá aqui, vai. - O guri coçava a cabeça, um tanto sem jeito, virando-a e deixando os longos cabelos loiros penderem, de lado.
Ela balançava um pouco as pernas, ao sentar-se por cima de uma lápide negra, deslizando os dedos pelo mármore escuro e sentindo as reentrâncias do tempo e do entalhamento. Ele mantinha-se com as pernas cruzadas, sentado por sobre a mureta daquele pequeno mausoléu de aspecto um tanto gótico. A voz dela carregava toda a malícia de sempre.
- Então vamos lá... venerar os mortos com verdadeiros monumentos e palacetes não é estranho? Fazer as pessoas se forçarem a vir chorar o passado na frente de um pirulito de pedra, todo ano, é algo muito sensato, certo?
- E o quê isso tem a ver?
- Ué, não está óbvio, menino? É como eu prefiro celebrar os mortos. Trazendo um pouco de vida pra cá. Ou você preferia ficar do meu ladinho, mão na mão, chorando as pitangas pra cada túmulo desses?
- ... acho que eu prefiro não celebrar os mortos.
Ela ria.
- Xeque. - Olhava-o bem no fundo dos olhos. - Mas então... prefere na sua casa ou na minha?
- Deixa de ser boba... eu moro com meus pais e você com a sua avó.
- Então aqui é um bom lugar como qualquer outro, não?
- ... mate.