- Eu não queria… – Ela disparava.
- Mesmo? – Ele apenas abria seu sorriso vago.
- … mesmo. Ao menos no fundo, sabe?
- No fundo? – Erguia uma sombrancelha e ria dela, ao perguntar aquilo com um ar de toda a malícia do mundo. A moça que tentava soar tão cheia de dúvidas…. – Péssima escolha de palavras, não acha?
- Você pode ficar rindo, aí… mas não sabe o que eu penso, tá? – Demorava a ligar os pontos, em sua estúpida indignação. – Ah, bobo! Não é disso que eu tô falando…
- Mas eu sim. O tempo todo… desde a primeira palavra que te disse até essa última. Até o próximo ponto final.
- Mesmo? – Ela encabulava, de súbito. Era possivelmente a coisa mais direta que ele podia lhe dizer, e certamente a mais canalha… mas era a franqueza da situação que a fazia sentir-se tão nua… – Então eu sou apenas isso aqui, né? – Puxava o lençol por sobre o corpo, como se quisesse se esconder dele. – Não sei se gosto disso, viu?
Ele se aproximava dela, com ares felinos, mãos sobre a cama… – Mas eu sei… e você gosta. Pode não querer admitir nem gostar de fazê-lo. Mas estamos aqui, não? – Poderia devorá-la com aquele olhar, por cima do imenso sorriso de besta. – E, “no fundo”, acredita… eu sei exatamente o que se passava. – Insinuava uma das mãos por baixo daquele lençol, em sinal de clara ameaça.
As bochechas dela ardiam, de tão vermelhas, mas o corpo reagia de outra forma. Aquele rapaz em nada fazia seu tipo e ela mesma se perguntava como fôra parar ali. Mas ela queria. – Tá bom… você acha que sabe tudo, né?
- Se eu estiver errado, tudo bem. É só você me mandar parar AGORA, que eu paro.
Ela mordia o lábio inferior e respirava fundo, sentindo tudo que aqueles dedos lhe ligavam, à pele. – Não… faz aquilo na banheira, de novo?
Ele sorria, mais para si do que para ela. Aquela guria em nada fazia seu tipo, mas tinha curvas difíceis de ignorar.