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domingo, 4 de maio de 2008

Síndrome da Lebre Branca *fala o curandeiro*

O quão atrasado ou atrasada você está, nesse exato momento? A pergunta não é retórica. O que preciso saber é o quão longo pode ser esse texto, até que você tenha que simplesmente largá-lo e ir fazer outra coisa. Veja bem, não estou dizendo que você não goste de ler, ou nada do gênero. Acho até que se os seus olhos pararam por aqui, interesse há - e por isso lhe sou grato. Só não quero que se atrase a nada por minha causa.

O fato é que a era contemporânea, da integração e das facilidades eletrônicas não é o que eu via no desenho dos Jetsons. As máquinas e maravilhas robóticas não andam me poupando o tempo e esforço que a televisão me prometia. Nem essa tal globalização, que no meu Ensino Fundamental era um milagre que uniria a todos e durante a universidade se tornou um vilão que nem Super-Homem vence. Ao invés de um desenho dos anos 80, o que vivemos é um conto de 1865. Não somos a família do futuro em seu carro voador, cruzando os céus. Somos lebres brancas, com o relógio na mão, correndo atrasados para dentro de buracos estranhos. E ai da tal Alice, se achar que tem tempo de nos seguir para ver no que dá!

Outro dia, atrasado entre um cliente e outro, caí dentro do primeiro táxi vazio, disse o endereço e complementei, falando comigo mesmo (mas querendo que o motorista ouvisse): “Já estou tão atrasado”. Demorei pouco para notar como aquilo podia ter soado grosseiro e corrigi-me: “Mas olha, a culpa disso é minha. Sei que o senhor nada tem a ver.” O resultado foi um sorriso animado, toda uma conversa sobre quantos acham que seus atrasos são problemas dele e a corrida Botafogo-Tijuca mais rápida da minha vida. Aparentemente, ele fez questão de não deixar eu me atrasar mais.

Em um ensaio sociológico, Edgar Allan Poe uma vez escreveu algo curioso, a esse respeito. Propunha, na primeira metade do século XIX, que a modernidade gerava uma nova maneira do homem ver o tempo e lidar com ele. Escreveu isso ao observar a proliferação de relógios de bolso entre os cidadãos londrinos. Talvez tenha sido esse ensaio seu maior conto de terror, afinal. Propor um mundo em que as pessoas cada vez mais seriam escravas dos ponteiros. Penso no que ele teria imaginado, para a toca do coelho onde caiu Alice. Mas talvez eu esteja divagando demais.

Considere o quanto esbarrar com um velho conhecido que você possivelmente não via há anos se tornou pouco mais do que: “Oi, fulano! Quanto tempo! Vamos marcar alguma coisa.” Prolongando-se disso, talvez se chegue a ótimos 20 minutos de conversa e, depois, só Deus sabe quantos outros anos sem se verem novamente. Curiosamente, a conversa mencionada será 80% de colocações sobre como e por que vocês não andam com tempo para se ver mais. Nos outros 20%, uma lista das pessoas que os dois nunca mais viram, em comum e pelo mesmo motivo: tempo. Ah, e já estava claro que a “alguma coisa” a se marcar dificilmente viria, ocupados como os dois têm estado. E não estamos todos?

Aliás, que me perdoe o leitor ou leitora... mas agora eu estou atrasado. E você, possivelmente, também. Presos entre Carroll e Poe. Somos lebres, com nossos relógios de bolso.

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Publicado no fanzine Elebu do mês passado, quem ainda não leu, espero q goste. O fanzine deste mês já saiu e é edição de aniversário! Está valendo muito a leitura, pessoal, dêem uma conferida. É só baixar em: http://elefantebu.poraki.com.br/

Boa leitura.

3 comentários:

Tyr Quentalë disse...

Já te disse o quanto eu gostei de tua crônica?
Já te disse que escreves maravilhosamente bem e que sempre adorarei ler teus escritos?
Amo esta tua crônica, por ela lembrar-me quando ambos nos tornamos Lebres Brancas.
Vida longa às tuas crônica, meu amado Marido, pois mais delas iremos todos esperar para ler e reler.

Nanda Nascimento disse...

Olá Troll,

O tempo realmente é curto, ou talvez nós que temos muitos afazeres,por isso não vou me alongar. Bem real seu texto,isso me faz pensar que cada dia que passa valorizamos cada vez menos o que é realmente importante.

Fui no site do elefantebu, nossa que edição bacana, textos ótimos, até já pedi o meu por e-mail.
Parabéns!!

P.s:No post abaixo da homenagem da Milla,"Pra Vocês" eu lembrei de você.

Beijos e flores!!

Lyn Monroe disse...

E nao é q vc esta totalmente certo?
eu ate agora nao arrumei tempo p ver o fanzine, mas pelo menos ainda arrumo p ao menos ler os posts dos amigos! rs
beijo !