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segunda-feira, 18 de maio de 2009

Sussurros *à luz fraca da janela*

As sombras confabulavam como se à távola, tempos e tempos atrás. Naquela noite, houveram decidido reunir-se para discutir o destino dele… estavam agitadas. Os sussurros vazavam-lhe ao sono, invadindo seus sonhos.

- Mas digo-vos, porque isso vi. Ela deixará de novo e ele sente. Repetir-se-á tudo uma terceira vez…
- Nenhum de nós tem certeza. Deixe de tolices… faria-lhe bem abandonar o passado vez por todas. E o está fazendo, não vê?
- Mas e se algo acontecer e ele se sentir culpado? Não acha q deveríamos ao menos avisá-lo?
- Fala como se ele já não tivesse notado. É o Arauto, lembra? A essa altura, ele já percebeu… mesmo que à força.

A luz do abajur acendia de súbito e todas se calavam, para segundos depois desaparecerem à luz mais forte da tela do notebook, que uma mão preguiçosamente abria, ao lado da cama.

- … vozes cretinas… me deixem dormir….
- O que foi, amor? De novo? – Ela despertava de um jeito lânguido, os dedos buscando-lhe o rosto e acariciando o cavanhaque, mais por instinto do que de ato pensado.
- Não me fala pra buscar terapia… ok? – Ele virava pro outro lado, puxando o travesseiro.
- Quem você acha que sejam? – Ela meio que se debruçava sobre ele, com jeito de curiosa.
- Não tem isso de ser essa ou aquela pessoa… ninguém é um só, nesse estado.
- Então a gente um dia se despedaça?
– Aquela pergunta fazia ele rir baixinho e isso atiçava-lhe a curiosidade.
- Não é isso… é que… não é sólido, entendeu? É energia…
- E energia fala? –
Ela agora soava incrédula.
- Não... não é falar… mas certos tipos de sistemas que se formam dessa energia, especificamente, adquirem consciência.
- Iiiiiih… tá ficando complicado. Sistemas?
- Sim, ordenações… “aglomerados” que de vez em quando vão além disso.
- E é isso que você ouve?
– Ela se ajeitava na cama, sentindo o sono daquele assunto.
- Sinto, mais do que ouço. – Ele bocejava.
- Então instala um vírus nesse sistema e vamos dormir, vai.
- ……… boa noite, amor.
- Doidinho...

shadows_by_alexkatana

7 comentários:

Anônimo disse...

Eu fico me perguntando quem não conversa com suas vozes interiores...
Para falar a verdade, algumas vezes elas são bem divertidas.
Em outras, são as fagulhas que nos fazem criativos.
É só saber usar e jamais ser usado.

beijinhos, nino!

Tyr Quentalë disse...

Sentir.. Sim... é mais o sentir do que o escutar propriamente dito.. é um sentir que se torna tão audível, que atiça, que chama a atenção, que faz muitas vezes nos desligarmos por completo ou ligarmos mais ainda a nossa atenção a essas... vozes...
Posso até sentir o eriçar da pele, só de pensar nesse assunto.

Anônimo disse...

MAMA:
E conversar sozinho de vez em quando faz bem... mesmo não se estando totalmente sozinho.

TYR:
Mas a quem é dada a capacidade, que escolha outra haveria?

Sueli Maia (Mai) disse...

Diálogo perfeito e nada patológico.
Ouvir as sombras dialogando é mais comum do que se possa imaginar.

Sombras seriam 'sobras' do passado?
Só são ouvidas nas noites porque essas ampliam os medos, as culpas, as acusações, as memóris?

Perfeito, Troll.
Excelente texto.
Que 'tropa' de elite essas sombras, hein?
Te cuida 'maluco' não dá mole prá sombra, hein?

Abraços,

Anônimo disse...

MAI:
O q são nossos esqueletos senão quem veste as roupas q abandonamos no armário, afinal?

Fernanda Toledo disse...

Bom é, às vezes, deixar que essas "vozes" falem.Falem sem parar e descontroladamente. Assim elas aliviam os medos e não nos pesam os ombros.
Ouvi-las('ouvir-te') é, sem dúvida, conhecer a si profundamente;mas sempre as colocando em seus lugares de vozes.

Sei que isso foge ao seu texto.
Nele percebi em mim alguma coisa que ultimamente tenho deixado abafado.

feliz de passar por aqui!

**

Anônimo disse...

FERNANDA:
Nada que o texto tenha-lhe feito pensar foge a ele, muito pelo contrário. Quaisquer pensamentos se tornam parte dele, o fazem crescer. Acho q é um imenso prazer do escritor, saber q fez pensarem. E as vozes dessas sombras, sandice ou não, são bem mais sensatas q muitas coisas q nos obrigamos a ouvir com atenção, no dia-a-dia.