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quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Cercear sonhos... *do diário de bordo*

Havia uma menina que guardava seus sonhos em aquários.

Era lindo, ver como os admirava, de trás dos vidros, tão cuidadosa. Polia, trocava-os de lugar, mostrava cada um que tomava-lhe o brilho do olhar. Dançava por entre aquelas bolhas, sorridente e bela, rodopiando nas perfeições de suas náutilas fantasias.

Mostrou-me cada um, pouco a pouco... Não acho que todos, pois eram muitos. Mas aqueles que tinha de mais encantadores, foi trazendo-me um a um. E assim eu os admirava, janelas cheias de ansiedade e desejo. Pedaços de mundos construídos aos poucos, incompletos. E foi com todo receio possível - mas uma curiosidade quase infantil, que toquei alguns.

De começo, punha a mão com receio. Leves ondulações ao fio da água. Deixava-me ser parte, ainda que fugaz, daquelas imagens. Ela ria e se permitia levar. Divertia-se e por vezes olhava-me como se os dedos lhe tocassem a pele, também. E no meio daquela estranha folia, um pensamento incomodara-me.

"Onde guardas os teus temores?"

Dissera-me que não os tinha. Que era apenas aquilo que ali me mostrava. Que nada mais guardava, porque nada mais importava. E que naquele lugar, sabia jamais haveria o que temer. Sorria, em meio às palavras, do seu jeito infantil.

Apavorei-me. Os olhos arregalados, pedia a ela que escondesse tudo aquilo, rápido. Que me ajudasse a carregá-los para bem longe. Confusa, não perdera o sorriso.

"Teus temores correm soltos... Podem vir ter com teus frágeis sonhos, não percebes?"

Mas apenas sorriu uma vez mais, como quem me pediria calma. Eu ali, na certeza de que ouvia passos, mil deles, repletos de grunhidos e terríveis urros de ameaça. Mas palavra alguma minha a fazia entender. E foi assim que a deixei, ali, tão bela quanto frágil.

A última vez que a vi, estava ainda lá, abraçada ao último de seus aquários, sentada ao chão repleto de cacos e sonhos. Mas ainda sorria, como quem quisera dizer-me que o mais precioso de todos estava a salvo.

Acho que aquele ali, ela nunca me mostrou.

Hoje penso que sonhos existem para serem despejados ao mar e ao vento, libertos. E mesmo assim, egoísta, guardo meus melhores comigo.

 
Flow, de ~maaria no deviantART.

7 comentários:

Sisa disse...

Ai, que lindo... adorei... =)

Bia disse...

Simplesmente fantástico....maravilhoso o que escreveu...e sonhos são sim para serem LIVRES !
Devemos VIVER cada um de nossos sonhos!

um beijo em você!

Bia

Dan² disse...

MUITO FODA!
Perfeito cara, mandou muito bem!

Valéria lima disse...

Que coisa linda amigo, Renato Russo faria uma música desse seu texto.

BeijooO*

Anônimo disse...

SISA:
Me permitindo o narcisismo, eu gostei demais desse, tbm. Daqueles que vc não pensa a respeito, simplesmente sai escrevendo.

BIA:
E o quão difícil não é essa vivência, mas o quão recompensadora ela pode ser, não acha?

DAN²:
Valew, véi, eu fico orgulhoso assim de pouco do q escrevo.

VALÉRIA:
Nossa, isso daí já seria honra demais para este tosco Troll, caríssima. *rs*

Mariana disse...

Que texto bacano,criativo e um verdadeiro poema.
Gostei de visitar-te,estou te seguindo e no tt também.
Desejo-te um ótimo fim d smeana.

Mandy disse...

Engraçado, mas me identifiquei bastante com o que escreveu. Principalmente o final: "Hoje penso que sonhos existem para serem despejados ao mar e ao vento, libertos. E mesmo assim, egoísta, guardo meus melhores comigo".

Obrigada pela visita lá no Sook...
Xoxo