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quinta-feira, 13 de maio de 2010

Pela floresta – parte I

Ela checava atentamente os instrumentos, a cada cinco minutos. Nada no console principal nem nos sensores óticos. Todos os sistemas normais. Eram apenas ela, 9 toneladas de aço, plástico e fiação, e o espaço negro, repleto de estrelas. Aqui e ali, um asteróide… e lá também… e às vezes alguns bem perto… os sensores ativavam a propulsão de manobra muito em cima e isso a irritava um pouco.

Haviam lhe pedido com todas as palavras que não fosse por aquele caminho, quando deram-lhe a missão. Mas era tão mais rápido que não fazia sentido. Ainda mais para uma entrega a ser feita em sub-luz. Sentia-se acorrentada, em não poder utilizar os motores de salto. Mas o que quer que fosse a carga, não suportaria a aceleração. Culpava a inércia, por entre os dentes.

Os olhos deslizavam para as câmeras do compartimento inferior. Uma caixa tão pequena presa ao chão. Era de madeira, com cores pintadas na tampa, de avisos em vermelho e branco. Vista de relance, lembrava-lhe uma cesta de piquenique, daqueles programas nostálgicos de entretenimento. Ria baixo, imaginando tamanha tolice.

- Scarlet! – A voz chiava tão repentina e alta, em meio a toda a interferência dos asteróides, que ela assustava-se com o rádio.
Segundo informação nos monitores, a transmissão vinha direto da Nave-Mãe. – Onde diabos você está? – A comandante soava bem mais furiosa do que o normal.

- Estou bem, Nave-Mãe. Só muita interferência… segundo as leituras, vem da sílica dos asteróides, ou coisa assim. – Alcançava o capacete, ao lado da cadeira, para ter algo a abafar a gritaria que, já sabia, iria ouvir. Polia, vaidosamente, o lustro vermelho, antes de vesti-lo, enquanto apenas os chiados da respiração que acelerava-se do outro soavam na comunicação.

- Eu lhe ordenei! Por quê diabos está seguindo esse curso?  Acha que pode brincar com as minhas ordens, assim? Retrace seu curso AGORA e tire sua nave daí o quanto antes, ouviu bem? – Scarlet pensava no quanto os chiados causados pela estática faziam-na soar como um dinossauro e segurava-se para não rir. – O Comando proibiu quaisquer passagens por esse cinturão até que os Lobos do Espaço fossem capturados.

- Nave-Mãe, a senhora está falando de história antiga. Aqueles piratas abandonaram isso aqui faz tempo. Ontem mesmo estavam sendo caçados há anos-luz-

- Não interessa, Rainha Vermelha! São ORDENS! – A comandante provavelmente já babava de raiva, do outro lado.

- Sim, Mamãe. – Soava claramente entediada, quase birrenta. – Traçando novo curso… para perder mais dois meses e levar essses doces para a vovozinha… – Desligava o sistema de comunicação, aborrecida, e puxava os painéis de navegação para o colo, vendo os mapas se desenharem aos poucos na tela. A interferência dos metais naqueles asteróides era especialmente incômoda, para os sistemas de trajetória. Todo o resto continuava verde. Normal.

 
Pepper Groove, de ‘Artgerm no deviantART.

***

Era uma bela nave vista de longe, a Rainha Vermelha. Mais bela ainda a voz de sua capitã. Tinha ouvido um bocado daquela transmissão, decidindo se a presa valia sair de sua toca.

E o que quer que fosse, parece que irritaria muito o Comando, se
um lobo pegasse.

4 comentários:

Valéria lima disse...

Adorei bem surreal! ainda bem que continua...

BeijooO'

Anônimo disse...

VALERIA:
Não se preocupe, caríssima, a inspiração Sci-fi anda à toda. ;-)

Dan² disse...

FODA!!!

e a imagem é irada tb, representou muito bem o texto!

Anônimo disse...

DAN:
Essa tem continuação, com certeza.
:-D