Bem-vindos à nova dimensão... seqüenciador de sonhos online.

sábado, 14 de março de 2009

... não me toquem nessa dor. *no rádio*

Um estrondo. Surdo por alguns segundos, ele olhava em volta. O cheiro de ozônio, tão forte no local, preenchendo-lhe as narinas. Algo parecido com uma dor de cabeça atacando-o de súbito. Aquilo tinha sido um raio... só podia ser.

- Coincidência, só isso.

Mal ouvia a própria voz, mas não perderia a pôse. Forçava-se a não cambalear, apesar do forte impacto que acabara de sentir. A visão voltava aos poucos e só então se dava conta: não era o mesmo lugar. Não fazia idéia de onde estava. O estrondo não era mais coincidência, porque não podia ser.

- Quem é voce?

O rapaz à sua frente apenas abria um sorriso largo, branco, por baixo dos cabelos um tanto bagunçados e soltos. A franja um tanto mais comprida do que o normal lhe cobria os olhos, mas um brilho verde por sob ela denunciava-lhes a cor. A roupa era estranha... a manta dava um jeito esquisito, anacrônico, às calças jeans e ao tênis surrado. Não respondia nada... como se havia identificado, mesmo? Oner... não... Oneiromante.

- O q-quê diabos é você?

Aquele sorriso trazia caninos finos, não longos, mas pontudos. Incomuns. Não era nada saído de um conto vampiresco... lembrava-lhe mais algo... felino. A voz vinha, mesmo que os lábios não se movessem.

- Não, não... o diabo aqui é você.
- De que porra você tá falando? Pra onde você me trouxe?
- Eu não... ela. Ela não te quer mais por aqui.
- QUERO OUVIR ISSO DELA!
- Aqui... ela é quem ouve tudo. Você só escuta. Você é um câncer.

O Oneiromante erguia uma mão, tirando os cabelos do caminho. Os olhos pareciam mudar de cor, a cada segundo, e por um momento tudo parava, o próprio ar estagnava ali dentro. O rapaz se dava conta de para onde havia sido trazido: ali era a casa dele. Mas diferente, de alguma forma.

- Não... não vou embora. - A voz mudava, aos poucos. Palavras tornando-se algo mais parecido com ruídos. Ele grunhia, à luz dos olhos daquele que viera confrontá-lo. – Quem você pensa que é? – Aquilo vinha em um berro quase ensurdecedor.

- Quem você pensa que é?

Ouvir aquela pergunta de volta o irritava além do suportável e ele sentia-se mudando, de alguma forma. Era estranho, mas era ao mesmo tempo natural. Crescia, em desafio àquele homem que queria arrancá-lo dali. Estava em um sonho, mas não era um sonho seu. Era um sonho dela. E ali, ele se sentia muito mais confortável do que em qualquer outro lugar. Haviam sido anos habitando aquela mente. Não se deixaria derrotar, por um idiota pretensioso.

De súbito, decidira pelo embate. Saltava por sobre o oneiromante, querendo derrubá-lo, para descobrir-se, menos de um segundo depois, em um novo lugar. Parecia que estava sobre algum tipo de pedestal, e ao fundo podia ouvir a voz daquele que tanto o atormentara… e a voz dela.

- É como um vício… buscar o que te faz mal.
- Haverá sempre alguém…
- … que seja.

Tudo desmoronava rápido demais. Ele não entendia mais nada, mas sentia uma sensação de impotência imensa… que sequer sabia se era sua.

O acordar não foi como o de qualquer manhã.


Bleeding Love, de *xequemate, no deviantART.

6 comentários:

Anônimo disse...

Você dormiu com o gato na barriga, não foi? :)

beijos, nino.

Tyr Quentalë disse...

Conheço a sensação e quando entramos nos sonhos de outra pessoa. Sei o quanto pode ser apavorante.
Há muito percorro entre mundos, Andarilho e você?

Anônimo disse...

MAMA:
O gato tem dormido longe, pq anda manhoso demais e carente horrores. *rs*

TYR:
Não me apavora fazê-lo. Pelo contrário, quando preciso fazer, é algo bem natural. O mais difícil é lidar com vontades alheias.

Tyr Quentalë disse...

E é isso que pode vir a se tornar apavorante, quando entramos nos sonhos de outrem, pois nossas vontades são testadas e precisamos ser maleáveis às vontades alheias. Muitas vezes ser um observador, mesmo querendo ser um oneiromante...

iaiá disse...

demorei a vir te ler, ando um tanto relapsa com meus blogs prediletos..
mas valeu ter vindo
arremate tão perfeito!

"É como um vício… buscar o que te faz mal.
- Haverá sempre alguém…
- … que seja.

Tudo desmoronava rápido demais. Ele não entendia mais nada, mas sentia uma sensação de impotência imensa… que sequer sabia se era sua."

bj

Anônimo disse...

TYR:
Apenas observar... tem horas que realmente é difícil demais.

IARA:
Como tudo dos sonhos, sempre o risco de se perder.