Bem-vindos à nova dimensão... seqüenciador de sonhos online.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Tabuleiro *geme o homem da camisa de força*

Ele caminhava cada vez mais lentamente. A trilha era a mesma, não menos íngreme, mas também não mais, e no entanto a marcha ia diminuindo aos poucos. Parecia que seus olhos não conseguiam mais ver a estrada tão claramente e sentia-se perdendo peças pelo caminho. Por vezes abaixando-se para pegar algumas que via caírem. Desmontava, pq sentia-se fora de ordem.

- Homem, não pense que deixamos esse jogo parar, assim. – O cavalo olhava-o com um tom sério, do alto de um quadrado negro, à beira de seu trajeto. O tom tão claramente acusatório, vindo daquele ser esculpido em marfim. – Vamos! O tabuleiro está parado há tempo demais.

O caminhar não cessava, mas por um momento aqueles olhos deixavam-se contemplar o panorama por trás do mesmo brilho de sempre. Um ar vago ao rosto, como se nenhuma jogada pudesse ser realmente infalível, mas mesmo assim o olhar entregava que havia aquele planejamento em ordem. Algumas peças caídas do chão voltavam para seu corpo, como se pensar no jogo fosse aos poucos remontando o quebra-cabeças.

- Avante! – O cavalo sobressaltava-se como se tomado por uma ordem inaudível e saltava de seu quadrado, galopando ladeira abaixo até uma nova posição, onde voltava a ser marfim duro.

- Sacrifica-me em nome de algo, jogador? – Poucos passos acima, o bispo olhava-o com um ar de resignação. – Olho à volta e sem o cavalo, sei que serei o próximo a cair. Mas já tantas vezes era eu a ensinar sobre o sacrifício. Justiça poética lhe cai bem, como sempre. – Respirava fundo, vendo a imensa torre que se avolumava à sua posição e fazendo o sinal da cruz, uma última vez, antes de deixar de existir sob o peso da pedra .

Os gritos de mais uma entidade ecoavam pelo tabuleiro da vida, enquanto o jogador abaixava-se para alcançar as últimas peças que havia perdido. Não se incomodava em desmontar-se, de vez em quando, mas ultimamente sentia mais forte o vácuo por baixo do próprio quebra-cabeça. Não lhe agradaria o ébano da inexistência. Não agora. Encaixava de volta aquele pedaço, à palma da mão esquerda, e respirava fundo uma vez mais, depois de tanto tempo. Ainda estava longe do cume, mas pela primeira vez em dias, parava de caminhar por alguns instantes.

O olhar percorria a disposição de todo o tabuleiro, uma vez mais, antes de voltar-se para o espelho. Quem o desafiava, ali, era ele mesmo. Seu oponente mais difícil… e mais recorrente. Fechava os olhos por alguns instantes, a respiração se tornando mais uma vez controlada. Recomeçava sua caminhada e dava as costas para seu adversário.

Sorria, ao ver a rainha passar imponente, como se voar fosse a coisa mais simples do mundo. Seus lábios enfim moviam-se e a palavra ecoava imponente por aquele mundo de pretos e brancos.

- Xeque.

7 comentários:

Anônimo disse...

Nino, parece que as aulas de educação física foram muito bem aproveitadas! :)))
Xadrez, só quando eu acampava ou quando era para jogar com meu irmão, que odiava perder. :))

iaiá disse...

xeque mate? rss
bj

Anônimo disse...

MAMA:
Eu realmente convencia o professor de educação física a me deixar ficar jogando xadrez. Isso é o quão ruim eu era com uma bola. *rs*

IARA:
Quem sabe? Possivelmente não. Acho q eu e meu espelho sempre declaramos um empate, a cada nova partida.

Tyr Quentalë disse...

A vida é um tabuleiro, onde movemos peças e sacrificamos algumas para que continuemos a jogar. Às vezes o olhar vago, busca as lembranças de jogos passados, erros cometidos que nos põem em Xeque, mas ao fechar dos olhos, nos afundamos cada vez mais até ter o vislumbre que contornará o xeque e delongar o jogo da vida tão intrigante.

Lais Camargo disse...

lembra muito uma prática de meditação que fiz um dia...
um caminho, o que está nele, o que fazemos com o que encontramos...
e o jogo...é a luta eterna entre a mente (que mente tanto...) e o coração

sopros....
=***

Lyn Monroe disse...

Q saudades do meu amigo!
Espero q vc esteja bem!
eu to! so correndo muito!rs
vim so dar um oi, dizer q to viva!
e outra hora venho ler tudo q andei perdendo, te comentar como vc merece!
beijo gde!

Anônimo disse...

TYR:
E de que vale cada movimento se não para perpetuar o jogo e manter viva a mente por trás de cada escolha?

WOLF:
E mente e coração nesse desafio perduram, crescem, brigam pelo espaço da ação, tão curto mas tão importante.

LYN:
Caríssima!! Mas quanta saudade de ti, minha grande amiga, tão sumida. Esperar-te-ei sempre de volta, viu? Os portões do Palácio continuam abertos, como sempre. Ótimo vê-la.