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quarta-feira, 5 de maio de 2010

Asas abertas

Mantinha os olhos abertos, com certo esforço. Notava o quanto o cansaço a alcançaria, se os fechasse por mais do que aquelas frações de segundos, teimosos que eram. O dia inteiro se passara e agora, finalmente fora de toda a loucura e correria, ainda não poderia descansar.

Era muito o que a prendia, ali. Cada laço e cada volta de suas preocupações apertando-se aos poucos, por cima das juntas e ao seu redor. O trabalho lhe atava as pernas, cansadas, ameaçando deixá-la cair a qualquer instante. Família trazendo suas mãos às costas, em voltas cada vez mais firmes. Homens que lhe rodeavam o corpo em voltas lascivas e faziam-se em nós por sobre e sob a pele.

Tudo tão opressivo, tão cheio de pequenos tormentos tornados imensos. E ali, finalmente longe de tudo, lutava apenas para manter-se desperta. Era seu papel não imposto, mas sim aceito de bom grado. E lembrar disso lhe trazia mais forças. Ali, era questão de orgulho. De entrega…


Shibari IV, de =koruptid no deviantART.

Àquela última volta, ele puxava toda a corda e firmava-lhe a amarração ao redor do corpo. Seu fôlego escapava todo de uma vez, como se num susto, e ela suspirava. Misto de dor, apreensão e prazer. Não estava mais nua. Vestia o cordame porque ele assim queria, mas entregava-se a ele com toda sua vontade.

Se sentia livre, pela primeira vez naquele dia… o corpo leve, porque estava como a mente. Não era, ali, de suas preocupações.

9 comentários:

Macaires disse...

O prazer comanda a mente e o corpo obedece...

Um beijo, meu caro!

Anônimo disse...

Sair do convencional, buscar refúgio no que seria o horror de muitos, dar-se de presente ao outro com nós e laços.

É... isso é para poucos, nino... ;)

Beijocas

Dan² disse...

Lendo isso me da mais vontade de comprar uma corda e aprender alguma coisa!

acho que em breve vou fazer exatamente isso!!!

Muito bom o texto!

Nanda Nascimento disse...

A entrega se torna necessária, pra vivenciar todo o momento.

Beijos e flores!

Anônimo disse...

MACAIRES:
É nesse ato de entrega que o prazer se revela muito mais do que apenas toque e sensações, linda.

MAMA:
Isso é para quem ouse experimentar, caríssima. ;-)

DAN:
Dicas para começar é treinar em almofadões e travesseiros. Parece pateta, mas se vc conseguir firmar nós em algo tão macio e difícil, o resto vem mais fácil.

NANDA:
Ela se torna parte do momento. É viver aquela entrega e se deixar levar, completamente. Uma escolha.

Valéria lima disse...

E assim os minutos se vão, mas colhidos: uns com dor, outros com prazer. O desafio é o equilíbrio.

BeijooO'

Sueli Maia (Mai) disse...

Entre o limite e os ilimites, há sempre 'nós' a atar e desatar.
E sei que com você um texto é mais que isto e metáforas são pretexto ou contexto.

Belo, caríssimo e, como disse, merecedores inspiram e brindam.
grande abraço a ambos

Anônimo disse...

VALÉRIA:
O desafio é se deixar perder, se jogar de olhos fechados e confiar que não há nada a temer. Conhecer tanto assim o que se quer é raro.

MAI:
São cordas e mais cordas, caríssimas. Parece que tem pra vida toda. ;-)

Matti Lioncourt de Romanus disse...

Aprender a mergulhar sem ter medo. Lidar com amarras sufocantes, mas imaginárias.
Soltar-se e sentir-se livre com amarras físicas que libertam a alma.

Sutil e, ao mesmo tempo, intenso. Simplesmente genial!