O título é plágio. Aviso logo, pra que não achem que nada do que vou falar aqui possa ser enganação. Mas assim como é plágio, é verdadeiro. Não sei sambar. Mas não sei MESMO! Sou um pé-de-valsa da pior espécie, quando a batucada dos tamborins e pandeiros começa. Ao som da bateria e das guitarras, até pulo, bato cabeça, dou minhas eventuais cotoveladas em outros roqueiros ao redor. Mas no samba, possivelmente só piso em alguns calos e dou as trombadas desastrosas. Tem uma musiquinha que parece que fala de mim: “Quem não gosta de samba, bom sujeito não é. É ruim da cabeça ou doente do pé.” Acho que sou as duas coisas, de tão ruim.
Voltando ao plágio, o primeiro que usou esse título foi Efraim Medina Reyes, autor Colombiano, em uma parte de seu tríptico Pensé que solo los peces La movían de esa forma. Ele usou esse título para falar de outro Marcelo, amigo seu, que foi morar nos Estados Unidos e se viu em uma situação constrangedora, cercado de amigas estadunidenses que haviam arrumado um CD de samba e queriam q ele as ensinasse a sambar. Pois comigo seria igual, volto a dizer. Sou brasileiro e não sei sambar, não gosto de malandragem nem curto futebol. Crucifiquem-me logo, por favor, e mesmo assim não sambarei nem que me obriguem, no inferno.
Acho que o maior problema é parecer uma obrigação, sabe? Uma semana por ano é dedicada ao samba, eu fico me sentindo até mal. Morar no Rio e não curtir o carnaval parece tão anormal que chego a me sentir culpado, de vez em quando. Fevereiro desse ano a culpa me fez deixar a casa pra ir buscar algum bloco de rua onde pudesse me divertir um pouco. Numa batucada mais forte, meus cotovelos agiram por instinto, achando que podiam abrir uma rodinha e eu fui expulso. Ano que vem eu saio de camisa de força, prometo.
Na verdade, eu consigo, com algum esforço, me virar numa pista de boate. Nesse ponto, não se pode reclamar muito, mas eu ainda prefiro os pulos desordenados e os encontrões das rodinhas de show de rock, só isso. O estigma, no entanto, é uma vadia. Na festa de fim de ano de um cliente, algumas funcionárias faziam questão que eu dançasse, e é claro que o próprio não deixou barato e colocou pilha. O bom é que é o tipo de interesse que dura pouco. Meu “samba” não chega nem a ser engraçado, de tão trágico. Sorrisinhos sem graça, o eventual comentário e eu logo disparo: “Marcelo no sabe bailar samba”.
Assim, faço dessa crônica um agradecimento a Efraim Medina Reyes, pois sem a frase dele, que eu aprendi a plagiar, eu sairia da pista de dança sem uma boa resposta. E assim sendo, viva o plágio, inevitável destino da obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. E que Walter Benjamin me perdoe, mas deveria haver uma sigla, aqui, especialmente pra esse tipo de piada interna. Mona Lisa, em suas caixas de cereais, agradece. Aliás, aposto que nenhum dos dois, Walter ou Mona, sabia sambar.
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Crônica publicada na edição n° 35 do fanzine Elefante Bu, em agosto. Quem curtiu, já pode ir lá baixar a edição de setembro, n° 36, em clima Noir. Muito boa, como sempre, vale a conferida.
4 comentários:
o plágio às vezes salva não? rs
e dançar? adoro! libertador, e depois que ligo desligar é difícil.
samba? no sabes? ah a gente te ensina! rs
ok. dança rock mesmo que tá bom.
Já o disse o quanto gosto de suas crônicas, creio que repetir este elogio venha a se tornar cansativo, ou não. rs.
Desde a primeira crônica que li, vi que elas mereciam ser lida por todos além de mim, por isso acreditei, apostei todas as minhas fichas em ti. Arrastei-o, modo de dizer, junto comigo em empreitadas que afirmaram o quão bom és no que fazes. Seja em crônicas, seja em seu modo de ser. Alegra-me ver mais um sucesso teu, que é afirmado por mim e pela dona do Elebu.
Você merece, sempre mereceu tamanho reconhecimento, sabendo sambar ou não ;)
Li esta crônica no elebu e achei o máximo, valeu a pena ler de novo, essas diferenças é que faz você ser quem é, afinal de contas o carnaval é uma semana ao ano, e o rock ...
Beijos e flores!!
IARA:
Acho q vc não quer sobre os ombros a responsabilidade de soltar meu samba no mundo... tragédia demais, já.
TYR:
Até aí, eu tbm não sei assobiar, afinal. *rs*
NANDA:
O rock está na veia, corre junto à adrenalina, em meu sangue. Faz parte do que me define, afinal. Imenso prazer, saber q gostes de minhas crônicas, caríssima.
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