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quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Ante acta *pelas planícies, até o Palácio*

Aproximava-se, voltando ao Palácio. O horizonte há algum tempo vinha-se abrindo e agora enfim o sol despontaria por entre as nuvens. O tom negro já desaparecendo meses antes. À frente de seus olhos, as planícies de Arcadia abriam-se até as colinas, onde a vista alcançava. Respirava fundo, um sorriso abria-se como se por eras aqueles lábios não houvessem movido e fosse possível um rosto enferrujar.

A armadura ainda reluzia, mesmo tão marcada e faltando pedaços, onde as tiras de couro não mais puderam sustentar o pesado metal. A lâmina perdera o brilho de outrora, mas ganhara, naquelas marcas e manchas de batalha, um aspecto austero, como se pudesse sobreviver ao próprio tempo. A ponta afiada há muito se partira. O guerreiro Troll dava cada passo resoluto, mas seus pés não mais enfrentavam o chão da mesma forma. O mundo ainda tremia sob eles, mas o guerreiro experimentava uma sutileza para ele incomum. As presas tornavam aquele sorriso ainda mais canhestro, mas por todos os lados, seus súditos uniam-se em côro de saudação.

As sombras, que jamais o deixariam em paz, encontravam o metal da lâmina não mais frio e nem tão afiado. Sentiam-se rasgar, pelo fio gasto, e experimentavam àquela espada o calor de tantos outros inimigos caídos. O Rei trocara a truculência de golpes movidos a urros por movimentos fluidos, que mantinham a mesma força e pareciam antever cada nova investida. Do alto da Torre Estelar do Palácio Elétrico, o Andarilho observa, junto a cada viajante deste reino. Sua voz soa, plena de malícia e enigmas, quase como sussurros.

- Retorna, nesse vore de vida, de novas conquistas, de tanto mais. Sintam, inquiridores. As trombetas anunciam que os portões nucleares se abrem, uma vez mais.

No estrondo de um trovão, tudo se cala e fica apenas o odor do ozônio, tão forte, quando a morada se abre para aquele retorno. Segundos incontáveis, mas que certamente não deveriam preencher apenas aquele minuto, se passam em badaladas de respiração, contadas pelos passos da imensa besta azul, enquanto ribombam pela paisagem. Todos os outros sons dão passagem. O anjo que lhe despertara as imensas asas de gárgula observa, do topo da murada, com seu sorriso de canto de lábios, respondendo ao astear delas com um suave aceno de cabeça.

Ali, no topo da escadaria, pára e apenas observa. O som de seus passos cessa, deixando de esconder que de dentro do salão, outros pés também moviam-se, em direção ao portão. Ecoando por todo o Palácio Elétrico, eles vibram na mesma freqüência que vibravam os golpes do monarca, do lado de fora. Ela caminhava, em direção ao guerreiro, e aqueles olhos deixavam-se mostrar quase explodindo por sobre ele, de tão firmes e tamanha a intensidade por trás deles. A voz do Rei soava, um grunhido que mesmo baixo enviava calafrios por seus súditos.

- Essa fome... ela cresce... não pára...
- Nunca. A menos que você queira. - E aquela voz parecia páreo para a dele. - Você quer que pare, Troll?
- Não. Nunca.
- Então... prossiga...

Sob o toque gentil daquela mão, ao rosto azul e marcado, o sorriso do guerreiro se refazia, como se o primeiro de sua vida. A lâmina ecoava por todo o salão, quando deixada ao chão, batendo seu peso contra metal e pedra. Não precisaria mais dela... expunha as garras, voltando-se para todas as novas sombras que surgiam. A voz do Andarilho soava, em um prenúncio de tom quase sádico.

- E que belo presente recebe o Rei, iniciando seus novos passos. Pois digo-lhes, inquiridores, que se o urro de um Troll é terrível, muito mais temido é o seu sorriso! Contemplem... muito além do temor de novas batalhas.


Chesshire cat de Sulime, no deviantART.

8 comentários:

Anônimo disse...

Qual o preço que se paga ao ferir a felicidade de um Troll?

Perigoso sorriso...

Sueli Maia (Mai) disse...

Olá, amigo.

Li em um respiro porque percebi que este seria um dos capítulos mais significativos e, se confirmou.
A tua descrição perfeita da armadura já gasta e da tez cansada, foi perfeita e fui avançando...

Que mistérios esconde este sorriso?
O que se deveria temer?
Bem, seja o que for que nos espera, se for tão belo como este texto, poderei esperar uma semana, que seja...

Beijos, Troll.

Lindo!

bete disse...

belo sorriso que faz tremer o mundo...
bj

Dani disse...

Então vamos contemplar e nos render ao poder desse sorriso.
;)

Flávia disse...

Ainda assim, eu fico com o sorriso ;)

Anônimo disse...

SENHORA:
Qual o preço que todos pagamos para cada sorriso que se vê extinto nas inutilidades da vida moderna?

MAI:
Na verdade, a inspiração tem estado em alta. Lhe fará esperar bem pouco, creio, caríssima.

IARA:
São seus olhos, linda amiga. ;-)

RETICÊNCIAS:
E na contemplação, essa coisa de se deixar levar, de se perder um pouco, é tudo o q o poeta pede.

FLAVIA:
Uma escolha perigosa, caríssima. Quase sempre. Mas muitas vezes recompensadora.

Poisongirl disse...

Não abro mão desse sorriso , mesmo que de certa forma ele devaste, assuste.

A dor nos mostra o quanto estamos vivos...

Anônimo disse...

POISON:
A dor, minha amada, nos faz crescer, nos alimenta de certa forma. Aquilo q não te mata, afinal, te fortalece.

Mas q esse sorriso lhe seja sempre muito mais um afago do q qualquer dor, minha amada. Nada mais quero.