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sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Ave... *à lareira*

Queimava. Sim, aquele fruto da flecha de Eros deixava-se arder com uma intensidade tão grande que saíra de controle e agora era como se essa o consumisse. Tolo que é o amor, não percebeu que crescia desordenado e agora tentara englobar o mundo, e por isso seu próprio calor o fazia gritar, dentro daquele peito, sentindo-se desfazer como se o lamber das chamas o corroesse. Sentia que poderia perder-se em cinzas e isso o apavorou. O menor sopro, depois, e se perderia no vento.

Estúpido amor, perdido à ânsia de abraçar o mundo, quis ser tudo, quis tornar-se único àquele coração e agora ardia, cauterizando a certeza de que jamais seria tão grande assim. Da queda ao chão, o grito derradeiro, já sem asas para abrir e voar, sentia o cheiro da própria morte tomar-lhe as narinas... a mão estendida... os dedos se contorcendo. Queria de novo morder daquela maça, provar daquele beijo de sol, do beijo de chuva... ali, sentia-se desfazer nas cinzas.

Toda a angústia se abateu, quando não passava daquele montinho enegrecido, que em nada lembrava o sentimento que já fôra. Não havia mais dor, como não havia mais nervos ou mesmo coração, para senti-la. Não havia mais dor, como não havia mais peso. Quis chorar sem ter olhos ou lágrimas, e então sentiu o que se aproximava. Fosse o vento, fosse o sopro, estaria para sempre perdido, espalhado, e esse pensamento trouxe-lhe novo terror, como somente a massa do nada, da inexistência, poderia trazer. Ali, a um passo do mundo perdido do eterno ébano. Esquecimento. No fundo, sabia que o merecia. Que seu tolo egoísmo precisava ter um preço. Sempre tivera a certeza de não poder ser dono daquilo que cobiçara demais.

Não era o vento... duas mãos vinham juntar toda a fuligem, a poeira, a dor. Vinham proteger aquele ardido sentimento, contra o sopro, amontoando pedaços, fibras e grãos em um pequeno montinho, cuidadosamente.

- Eu tbm quero isso, seu bobo. Te bastar. É tão egoísta.

Àqueles sussurros, um sopro tão diferente o viera despertar. E ali, entre aquelas mãos, surgia a chama renovada. Daquelas cinzas, erguia-se algo que aquele peito até então desconhecera, na tolice de crer que tudo já compreendia. Respirava fundo, como se de volta ao primeiro inspirar de vida. Renovara-se até mesmo de antigas marcas. Ali levantando-se para enfim abrir os olhos e romper limites tantos.


The Phoenix, de ~Suirebit, no deviantART.

15 comentários:

Sueli Maia (Mai) disse...

Oi, Troll!
Não me lembro de, jamais, ter lido texto, tão lindo, sobre o mito fênix, entremeado por Eros.
E te agradeço imenso, porque há partes deste texto, que dariam vários livros.
Este texto que postastes, é um compêndio, uma antologia, um tratado.
Caramba!
Eu li logo cedo e voltei agora.
É mesmo lindo!

Carinho, Troll.
Obrigada, sempre.

Tyr Quentalë disse...

Sem palavras. É o máximo que consigo expressar.

Poisongirl disse...

"Eu sou sua miragem
Sombra fresca da sua realidade
Sou sua resposta
Sua ilusão de ótica palpável
Seu improvável
Seu conforto e seu pesadelo
Me diz primeiro
Por que te mostro metade do meu amor inteiro?
Me diz primeiro
Por que não houve um segundo beijo?
E depois um terceiro?


Eu sou seu corpo mais forte
Seu alvo atingido
Sua semente que nasceu
E não consegue
Te dar o fruto doce, já crescido, eu não sou eu
Eu não sou eu
Sou alguém que você imaginou
Uma visão do seu amor "

- Faço minhas sa palavras de Zélia e Lucina.
http://br.youtube.com/watch?v=creB4aiyC0Q

Anônimo disse...

Nino, lindo e forte. Como o nascer de um ano novo... queima-se e consome-se tudo o que passou e transforma toda a experiência num novo fogo.

beijinhos, querido

Anônimo disse...

MAI:
Caríssima, uma vez mais lisongeia-me com tuas considerações sobre minha escrita. Ler-te tem sempre esse sabor, seja com seus posts, com seus comentários, trazes algo de delicioso e tão delicado a esta tela. Abraços tantos, Mai, sempre um imenso prazer tê-la, por aqui.

TYR:
Palavras são uma ferramenta falha, para muitas coisas. Toda linguagem o é.

AMADA:
E dessa forma sou eu, anjo e andarilho, perseguindo a tua miragem, a tua imagem, percebendo que esse amor tão perfeito me levará por caminhos desconhecidos, e é estranho. Pois já cedi à tolice de crer que eu tudo compreendia, sobre isso. E hoje sou novamente aprendiz da vida, do amor, da alma. De todos os meus sonhos, poucos vivi de forma tão real, nenhum de forma tão intensa.

MAMA:
E essa pira há de queimar enquanto ano, por todo 2009. Queimar enquanto sentimento por toda uma vida. Por vezes, faz-se brasas, pois nada q brilha tanto dura para sempre, mas dessas brasas sempre ressurgirá chama nova, mais forte q a última. É assim, esse sentimento. E, dessa forma, persiste.

Anônimo disse...

Belo texto. E a escolha da foto não poderia resultar melhor.


Boas Festas.


Abraços d´ASSIMETRIA DO PERFEITO

ALGUÉM disse...

muito gostoso......adorei ler....
ah!Tem post novo!!!
Acabou de sair do forno!
Bjos.

bete disse...

suspeito que ao contrário do que pensam, está na essência desse amor derramado um certo egoísmo, que quer bastar ao amado... que se amem assim até os corações se acalmarem um pouco. e sejam sempre felizes e felizes para sempre.
lindo post , meu doce amigo. bjs

Anônimo disse...

MIGUEL:
A escolha da foto foi por um fractal que me falasse desse renascimento. De uma forma tão plena, intensa. Seja bem-vindo e volta sempre, meu caro.

ALGUÉM:
Caríssima, sempre um prazer tê-la por aqui.

IARA:
Não é uma questão de corações se acalmarem, caríssima, como não é questão de corações aflitos. *rs* Desse sentimento incomum, surgem novos momentos, uma vivência ímpar. Estaremos juntos, nessa descoberta. Bjos mil, Iara, sabe que adoro vc.

Nanda Nascimento disse...

Texto oportuno para o final de ano.

Adorei!

Beijos e flores!

bete disse...

doce amigo,
eu tenho cá pra mim que corações se acalmam sim.
o amor paixão, banhado de ânsia e um certo medo, depois trasnforma-se em amor-amor. e aí o coração bate mais calmo...mas essa sou eu né? rsss
bjão

Dani disse...

Sem ter o q dizer, a contemplação do texto e a gratidão bastam por hoje.
Feliz Ano Novo!

Anônimo disse...

NANDA:
Sim, achei curioso ter tido vontade de falar de renovação, tão perto do fim de ano. Gostei.

IARA:
Não falo tanto dessa coisa do amor acalmar, mas sim de corações em brasas, em um calor delicioso, incessante, que ressurge de si mesmo a cada momento.

RETICÊNCIAS:
Feliz ano novo, caríssima. Um 2009 maravilhoso.

Lais Camargo disse...

Intenso.
Senti as chamas da fênix e a dor do morrer para nascer flamejando em mim.
intenso como deve ser.

um 2009 iluminado e cheio de arte!
beijos

Anônimo disse...

WOLF ANGEL:
Intenso como por vezes é a única opção q se tem para ser, caríssima.